Um tema complexo, sempre acompanhado de bons debates e possibilidades diferentes de interpretação. Assim, o projeto de extensão do objETHOS nas escolas públicas encerrou o semestre, discutindo os temas desigualdade social e violência em duas escolas – o Centro de Educação Jovem de São José (Cemajoba), em S. José, e a EEB Gov. Ivo Silveira, em Palhoça (SC), na segunda passada, 8 de julho.


Neste último encontro do semestre, os/as estudantes também avaliaram as atividades realizadas desde o começo de abril – foram 8h/aulas, em quatro encontros que discutiram os seguintes temas: Questões de gênero (violência contra a mulher, relações abusivas e feminicídio, desigualdades no mercado de trabalho); Racismo na mídia (no Cemajoba); Saúde mental e suicídio na mídia; cobertura de política; e, finalmente, desigualdade e violência.

Nas duas escolas, cerca de 200 estudantes participaram das rodas de conversa (cinco turmas de 3º ano, no Cemajoba; e cinco turmas de 2º Ano do Ensino Médio, na escola Gov. Ivo Silveira). Sobre a temática da desigualdade social e violência, a equipe do objETHOS apresentou dois vídeos (produzidos pela Oxfam Brasil e Nexo Jornal – entrevista com o prof.
Sérgio Adorno, NEV/USP) e uma pesquisa com imagens sobre o tema, visto a partir das lentes do jornalismo.

Última roda de conversa do semestre sobre desigualdade social e violência na Escola Ivo Silveira. Foto: Klay Silva

Registramos aqui algumas percepções dos jovens estudantes sobre esses temas complexos e sensíveis:
“O ser humano se sente autoritário e isso faz com que ele se sinta no direito de explorar as pessoas” (mulher estudante sobre trabalho infantil e trabalho escravo)
“Desigualdade é sobre oportunidades. É quando uns tem muito e outros tem nada” (homem estudante sobre o que pensa a respeito de desigualdade social).
“Eu acho que o machismo nunca vai acabar. Mesmo que exista luta, o fim é quase impossível. Não venho para a escola sozinha, não vou até a padaria sozinha porque já fui perseguida na rua e tenho muito medo” (relato de uma das estudantes que compartilhou situações de assédio que já sofreu, refletindo sobre desigualdade de gênero).
“Todas as formas de preconceito distanciam as pessoas do mercado de trabalho, desde a cor da pele até uma tatuagem que a gente faz” (mulher estudante ao refletir sobre as formas de preconceito nos meios sociais e mercado de trabalho).
“Colocam nos programas de TV pessoas que eram muito pobres, se deram bem na vida e ficaram ricas. Vendem isso como se fosse possível pra todo mundo. Como se fosse preciso só se esforçar pra conseguir algo” (mulher estudante sobre discurso meritocrático reforçado pela mídia).

Também foram apresentados os dados da pesquisa realizada pela ONG Oxfam sobre desigualdades, enfatizando a necessidade de pensarmos sobre o panorama geral da questão.
No Brasil, seis homens (bilionários), brancos, concentram a mesma riqueza que a metade mais pobre da população (mais de 100 milhões de pessoas). Ou seja, os 5% mais ricos recebem por mês o mesmo que os demais 95%, juntos, no país. Finalmente, para 86% entrevistados na pesquisa “Nós e as desigualdades” da Oxfam Brasil (março e abril de 2019), “o progresso do país depende da redução das desigualdades”.

As desigualdades sociais e a violência, vistas pelas mídias jornalísticas tradicionais, são fenômenos sem “pais”, sem causa ou origem, não decorrem de um modelo econômico, de uma relação desigual entre empresas e trabalhadores/as. Um dado global da desigualdade, mensurado pela pesquisa de 2018 da Oxfam, revela o tamanho do abismo mundial: as 42 pessoas mais ricas do planeta detêm a mesma riqueza que 3,7 bilhões de pessoas – mais da metade da população mundial. Em última análise, o 1% mais rico continua a deter mais riqueza que todo o restante da humanidade.

Participaram desta atividade o pesquisador Ricardo Torres (doutorando,
PPGJOR/UFSC) e as estudantes de jornalismo e bolsistas do objETHOS Klay Silva e Giuliana Arruda. As rodas de conversa foram coordenadas pelo professor Samuel Lima (objETHOS/UFSC).