Texto: Juliana Freire Bezerra

O projeto objETHOS nas Escolas foi tema de artigo publicado na última edição da Revista Brasileira de Ensino do Jornalismo (Rebej), em outubro. Assinado por Gabriela Schander, Juliana Freire Bezerra e Samuel Pantoja Lima, o relato de experiência Projeto de extensão para educação midiática e crítica de jornalismo sistematiza as informações colhidas em questionários com 330 estudantes de Ensino Médio de sete escolas, na Região Metropolitana da Grande Florianópolis.

Dentre as respostas ofertadas no período de coleta – do segundo semestre de 2017 até o primeiro semestre de 2019 –, chama a atenção que 9,03% das/os estudantes afirma não se interessar por jornalismo. Esta porcentagem é maior que a das/os que consideram seu conhecimento “ótimo” (4,51%) ou “ruim” (8,75%) acerca da profissão. Isto revela uma preocupação relacionada não apenas às necessidades de estimular o hábito de se informar nos/as jovens e ampliar o universo de leitura deles/as, mas também de repensar o jornalismo de modo que ele consiga atingir esse público.

O estudo também indica que jovens optam por se informar via canais online, conforme o gráfico abaixo. Esse resultado contraria dados de 2016 da Secom, sobre hábitos nacionais de consumo de mídia no Brasil, no qual a televisão aparece como meio de comunicação mais utilizado. Uma das causas pode estar relacionada ao aspecto geracional do projeto de extensão, cuja amostra é constituída de adolescentes que já cresceram inseridos no universo digital.

Dados referentes aos encontros do objETHOS nas escolas.

Já em relação aos temas de interesse dos/as estudantes a serem debatidos no projeto, predomina: gênero e feminismo (25%), política (21,43%), erros de informação (17,86%), racismo (14,29%), mobilização estudantil (7,14%) e saúde mental/suicídio (7,14%). No projeto de extensão, as coberturas midiática e jornalística analisadas versam sobre esses problemas sociais selecionados pelos/as estudantes. O objetivo disto, além de ser o de estímulo à participação no debate em sala de aula, é propiciar a reflexão acerca da relação de mútua-afetação que ocorre entre o processo de produção das narrativas noticiosas/midiáticas e a sociedade.

Sobre o questionário avaliativo, em que os/as respondentes expressam sua opinião acerca do trabalho realizado pelos/as organizadores/as do projeto, é revelado que a iniciativa é bem avaliada e elogiada pelos estudantes. As notas para o projeto, sem escala prévia determinada foram registradas de 5 a 10, sendo 72,13% acima de 9 e 27,86% abaixo de 8,5. O estudo ainda destaca que os materiais utilizados durante os encontros, foram avaliados como “muito bom” ou “bom” em 89,18% contra 10,81%  como “nem bom nem ruim”.

Apesar disto, a proposta dialógica ainda tem baixa aceitação: somente 38,56% se sentem estimulada/o a participar e pouco mais que a metade (51,38%) efetivamente o fazem. Isto se coloca como um dos desafios do projeto, ainda mais porque ele possui apenas duas horas aulas mensais em cada um dos quatro encontros realizados no semestre. Ainda assim, 69,18% dos/as estudantes afirmam ter debatido posteriormente com amigas/os os temas trabalhados no projeto, o que revela que o diálogo se estende para fora da sala de aula. Na seção de sugestões e comentários deste questionário, os/as estudantes recomendam que sejam realizadas mais atividades dinâmicas e coletivas e outras estratégias para quebrar o silêncio. No relatório também é destacado que a presença de coordenadores/as e professores/as da escola durante os encontros estimula a maior participação dos adolescentes.

Com mais de dois anos de existência, o projeto de extensão “Educação para crítica de mídia nas escolas públicas” é uma iniciativa ligada ao Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), organizada por professores, estudantes e pesquisadores/as em Jornalismo da UFSC.