O Mistério do Rosário Negro

Por Thomas Michel Antunes
Acadêmico de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina

Baseado em romance homônimo, Rosary Murders conta história de um serial killer que matava apenas membros do clero. Ambientado em 1987 (mesmo ano de lançamento do filme), ele traz a tona um dos assuntos mais recorrentes quando se fala em ética jornalística: o sigilo das fontes.

O protagonista, padre Bob Koesler (Donald Sutherland), trabalha no jornal da Holy Redeemer, congregação onde a história se desenrola. Ele é bem visto pelos freqüentadores da igreja e pelos seus companheiros de trabalho. É o típico personagem que se sabe, desde o começo da história, que vai ser o “bom moço” do filme.

O primeiro crime é o desligamento dos aparelhos do padre Lord, pároco da Holy Redeemer, que estava em coma no hospital. Entra em cena a jornalista Pat Lennon (Berlinda Bauer), que sugere ao seu editor uma matéria sobre o caso. Ela conhece Koesler através da investigação do crime.

O caso vai crescendo com o assassinato de outros padres e freiras. Todos os assassinados tinham em suas mãos um rosário; esta marca faz com que a mídia “batize” o criminoso de Rosary Killer. Com o aumento do número de mortes, a jornalista é tirada da cobertura do caso, e em seu lugar entram repórteres mais experientes, “e que são homens”, segundo a personagem.

Mesmo com Pat fora do caso, ela mantém contato com o padre Koesler, o que indica uma paixão platônica entre os dois. Os diálogos entre os dois são extremamente confusos. Também se nota uma estranha temporalidade, onde o padre e a jornalista se encontram à noite, têm uma breve conversa e saem juntos; após eles aparecem em uma cena onde já é dia. Pat Lennon, de início, parece uma personagem importante para a trama, mas no final percebe-se que ela é apenas um acessório que serve para romantizar a história.

Koesler, que de início não deu muita bola para a investigação, é abordado pelo criminoso enquanto estava no confessionário. Este fato faz com que o padre entre em conflito com um dos dogmas da Igreja: o segredo profissional. Ele sabe que o assassino está atrás de outros religiosos e quer contar para a polícia a fim de prevenir mais mortes. Aconselhado por um colega de paróquia, ele resolve continuar guardando segredo, mas decide revelá-lo de outra forma.

O filme segue o clima de suspense, onde as mortes são precedidas por músicas tensas e efeitos sonoros brutos, proporcionando até alguns sustos ao espectador. Koesler começa a investigar através de técnicas jornalísticas o caso, para descobrir os motivos do assassino e o porquê de tanta raiva contra padres e freiras.

No clima de investigador anos 50, em uma sala escura com apenas uma luminária às três da madrugada, Koesler vasculha em arquivos para conectar as informações dadas pelo criminoso. Na metade final do filme o padre consegue resolver o caso, aparentemente sem dificuldades, mas com muitos perigos. Ele enfrentou apenas um obstáculo: uma entrevista a uma freira que havia feito voto de silêncio. O encontro com esta religiosa lhe resolve grande parte do problema. Mas para entender a raiva do assassino somente falando com ele, o que acontece em uma cena tensa, com diálogos fervorosos e certa dose de “milagre”.

O constante questionamento aos valores da igreja católica e ao segredo profissional promete uma história brilhante. Talvez o livro traga mais o conflito psicológico que acontece com o padre Koesler, ou mesmo o amor platônico de Pat Lennon. No entanto, o filme peca no que se refere a este conflito. Cada cena nova traz um novo passo na história, o que acaba perdendo um pouco do lado psicológico.

O lado positivo do filme é a retratação dos padres em suas vidas fora do trabalho, sem as batinas. Donald Sutherland ajuda nessa parte, pois não convence em momento nenhum que é um padre.

FICHA TÉCNICA

O Mistério do Rosário Negro (Rosary Murders / EUA, 1987 – 105 minutos)
Gênero: Suspense
Direção: Fred Walton
Roteiro: Elmore Leonard e Fred Walton
Elenco: Donald Sutherland, Berlinda Bauer, Charles Durning