Pioneiro no ensino de jornalismo em Santa Catarina, o escritor e pesquisador do Observatório da Ética Jornalística – objETHOS, Cesar Orlando Valente, tem muito o que comemorar. Afinal, neste ano de 2024, um dos grandes legados do comunicador completa 45 anos de existência: o curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Com mais de 50 anos de atuação profissional na área, o jornalista abriu as festividades no Auditório do Centro Socioeconômico (CSE), na última quinta-feira (21), com a palestra “Tinha tudo para dar errado”. Para Cesar, a oportunidade de relembrar e reconstruir historicamente a “caminhada” da graduação desde 1979 até os dias atuais foi de importante serventia.

“Naturalmente, fiquei surpreso com o convite para dizer alguma coisa na abertura da solenidade. Como faz muito tempo (da fundação), achei que seria legal fazer um resumo sobre como foi o início do curso, porque nem todos dos que estão hoje cursando ou lecionando, conhecem a história”, afirmou.

Apesar da crença e da defesa por uma formação jornalística de qualidade, Cesar Valente acreditava, na época, que em algum momento acabaria sendo aplicada a “Lei de Murphy” – máxima popular que sugere que se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará errado.

“Um curso criado durante a Ditadura Militar, numa cidade que achava que jornalista não precisava de escola nem de diploma, tendo que equipar a redação com máquinas de escrever que algum departamento estivesse descartando, ou que alguma repartição pública da cidade tivesse doado (em vez de jogar no lixo), e precisando lutar atrás das verbas que permitissem a reforma do espaço físico e a aquisição de equipamentos (às vezes iam os alunos com cartazes para a frente da Reitoria), tinha muitas chances de não dar certo”, completou o jornalista.

Analisado por essa perspectiva, com os constantes ataques ao jornalismo e à liberdade de expressão da época, bem como o desejo de muitos em manter o status quo, o curso de Jornalismo da UFSC contrariou todas as expectativas e prosperou.

“Meu amigo Luiz Lanzetta (que também foi um dos primeiros professores do Curso), me disse há pouco que ‘em 1979 a gente tinha certeza que duas coisas iriam dar errado: o governo do João Figueiredo e esse cursinho que estavam querendo instalar em Florianópolis’. Então, tinha tudo pra dar errado. E a cada ano alguma coisa boa acontecia que ia afastando essas previsões pessimistas. Tinha tudo pra não dar certo, mas deu”.

Há 15 anos, 30 anos da graduação

Comemorados periodicamente, o aniversário de 30 anos do curso de Jornalismo foi um dos que marcou Cesar Valente.

O pesquisador comenta que à época, com a presença de fundadores e pessoas que ajudaram a construir esta história, fez um discurso em defesa da exigência do diploma para exercer a profissão, especialmente porque a exigência de formação superior para atividades jornalísticas estava sendo discutida no Supremo Tribunal Federal.

“A festinha dos 30 anos, por exemplo, foi bem interessante. Além de Moacir Pereira (primeiro coordenador da graduação) e do Reitor Alvaro Toubes Prata, estava também a Maria Elena Hermosilla, que é chilena e foi fundamental no estabelecimento da estrutura curricular que ajudou a formação a deslanchar em qualidade”, afirma Valente.

Acesse a reportagem da Agecom/UFSC sobre as comemorações em alusão aos 30 anos de fundação do curso de Jornalismo da universidade.

Carreira multifacetada

Nascido em 23 de maio de 1953, a carreira do comunicador começou em 1970, com apenas 17 anos, no jornal “O Estado”, de Florianópolis. A vasta experiência em ensino universitário, reportagem, edição, produção gráfica, jornalismo on-line, assessoria de comunicação e administração jornalística tornou Cesar Valente um dos principais nomes do jornalismo catarinense. Ao longo da trajetória profissional, trabalhou ainda em Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

Além de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo impresso, radiofônico, televisionado e cinematográfico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), concluiu curso de especialização em Economia e Política da Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB). 

Atualmente, presta serviços de consultoria editorial e design gráfico e cursa o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, na linha de pesquisa Conhecimento e Profissão, desenvolvendo uma dissertação sobre o perfil do jornalista em Santa Catarina. Faz parte também da equipe de pesquisadores do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) da UFSC.