A cinco dias do segundo turno das eleições presidenciais, jornalistas e acadêmicos terão a chance de debater as relações entre democracia e os meios de comunicação. O seminário “Democracia e Jornalismo na Era Digital” é uma promoção da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e do Mestrado em Jornalismo da UFSC (PosJor). O evento acontece no próximo dia 26 no Auditório Henrique Fontes, no CCE/UFSC, a partir das 14 horas, é gratuito e aberto ao público.
O seminário vai contar com uma atração internacional, o professor Silvio Waisbord, da George Washington University e um dos principais pesquisadores da área. Waisbord abre os debates tratando da democracia em outros países. O jornalista Carlos Müller, assessor da ANJ e doutor em Ciências Sociais, será o comentador da mesa. Na sequência, o editor-chefe do Diário Catarinense, jornalista Nilson Vargas, aborda os desafios regionais na era digital. Os comentários ficam por conta do professor Francisco José Karam, do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) e do PorJor.
Além de Florianópolis, a ANJ promove eventos semelhantes em mais quatro cidades brasileiras: Brasília, Porto Alegre, Vitória e Fortaleza. Para acompanhar o seminário na Capital é necessário se inscrever por email, bastando enviar nome e CPF. As inscrições são limitadas a 120 vagas.
O Seminário “Democracia e Jornalismo na Era Digital” tem o apoio do Diário Catarinense, objETHOS, Departamento e do Curso de Jornalismo da UFSC.
Serviço:
O quê? Seminário “Democracia e Jornalismo na Era Digital”
Onde? Auditório Henrique Fontes – CCE – UFSC
Quando? 26 de outubro, às 14 horas
Quanto? Entrada Gratuita
Como? Inscrições pelo e-mail objethos@gmail.com
Conheça os convidados
Não sou jornalista mas, sou admiradora do jornalismo ético em quem eu ainda acredito, o texto que eu colei abaixo foi publicado no Estado de São Paulo no dia 02.10.10 e, pasmem, na página entitulada ‘Cultura’, mais um motivo para a ‘liberdade de expressão’ não resultar na demissão da Jornalista Maria Rita Kehl e ainda sob a acusação de ter cometido um ‘delito de opinião’ já que o jornal ‘Estadão’ tem uma postura direitista assumida e, no seu âmbito de trabalho, rs, desconhece o que chamamos Democracia.
Maria Rita Kehl – O Estado de S.Paulo
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O
debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado.
Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a
disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em
espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma
coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de
classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos
últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na
internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam
seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a
favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito
anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão
consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que
parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos
trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém
mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os
candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro
da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais
pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros
humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar
bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é
curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo
condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família
só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e
aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo
do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de
todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a
condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do
governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes
disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de
José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as
famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao
dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já
conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a
comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades
pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente
sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem,
proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da
turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe
recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo,
pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos,
hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições.
Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de
modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de
pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é
preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200?
Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população,
esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo
chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de
2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que
votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses,
enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos
interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o
Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os
interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60%
de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como
pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que
votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os
sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela
via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a
público desqualificar a seriedade de seus votos.